Psicólogo responde o porquê há desrespeito no trânsito e ensina a ter controle emocional como um bom motorista
Nesta terça (25), comemora-se o Dia do Motorista. Entenda certos comportamentos no trânsito para uma direção mais segura
Dirigir com o pensamento em outro lugar, programando o próximo compromisso no celular ou se irritar com a imprudência do motorista ao lado. Esses e outros comportamentos são comuns no trânsito e dar vazão a eles pode ser a diferença entre a vida ou a morte. Nesta terça-feira (25), comemora-se o Dia do Motorista. Refletindo sobre a data, o professor de Psicologia da Una Uberlândia, Saulo Magalhães, dá três dicas de controle emocional atrás do volante:
- É comum no depararmos com motorista dividindo atenção com o celular, fora do limite de velocidade e/ ou desrespeitando a sinalização. O que explica esse comportamento e como ter controle sobre ele?
Esse comportamento se explica pelo nosso estilo de vida contemporâneo. A nossa vida prática acaba estando nessa dinâmica da tela do celular. Nós nos autorizamos a ter, no deslocamento, o contato com o celular e as mãos no volante. Depender da tecnologia acaba se fundindo com esse lugar do controle. Então, eu estou controlando o carro, mas, como eu dependo da tecnologia, eu vou aprender ou eu vou me desafiar a existir controlando o volante e suprindo a minha dependência, a minha necessidade da tecnologia, respondendo às mensagens, uma vez que o tempo contemporâneo, ele acaba sendo sempre muito escasso.
O motorista precisa se apropriar de uma consciência que não é possível fazer a gestão básica de um automóvel com as mãos no volante e ao mesmo tempo responder as demandas de um celular. Ele precisa se apropriar dessa consciência. Então, isso é um hábito. Assim como a gente criou o hábito de ter uma mão no volante e uma no celular, a gente pode recriar o hábito de não usar o celular quando o carro estiver em movimento.
A gente chama isso de psicoeducação: um hábito que possa ser apropriado e absorvido na consciência de que muitos acidentes acabam ocorrendo exatamente por conta dessa não consciência. Pode se desenvolver ações e iniciativas de psicoeducação que o motorista se aproprie dessa consciência. Assim como a gente conseguiu desenvolver, de algumas décadas pra cá, a consciência do cinto de segurança.
- Quais são as atitudes que os motoristas devem adotar no dia-a-dia? Existem ações indicadas especialmente para motoristas que têm dificuldade no gerenciamento de emoções?
Existe uma relação muito simbiótica de poder quando o motorista coloca as mãos no volante, ele está no controle – inconscientemente falando. Então, se ele tem o poder, o controle e está muito angustiado, com uma raiva muito intensa ou impaciente por questões da vida, isso acaba sendo traduzido ali, principalmente pela relação de poder que ele tem, por ter o controle, por ter o volante, por poder acelerar, por poder frear. A grande questão é que ele não está sozinho na rua, no trânsito. Ele depende muito do outro, do fluxo e do movimento do outro. Então, o motorista precisa também se ocupar de uma consciência de que o trânsito não diz respeito somente ao meu eu, mas ao outro também.
Então, ele deve se organizar com os seus horários e entender que a vida é arte do possível. Se comprometer com uma compreensão de que vivemos em sociedade e de que não adianta querer que o outro, no carro dele, entenda que está com pressa. Porque muitas vezes a gente tem essa perspectiva: “Estou com pressa, sai da minha frente”, né? Pode acabar sendo “slogan” que a gente utilizar no trânsito. O outro, ele tem um fluxo diferente do meu. Então é preciso se adequar a isso também.
- Quais são as características de um motorista cidadão e como estimular a formação desses condutores em nível individual e social?
O motorista cidadão sabe que ele vai precisar de ceder, dar passagem, precisar parar, que tem a hora de acelerar, naturalmente. Ele também se apropria da ideia de que existem algumas prioridades para um bom trânsito que ele não pode se isentar delas. Quando ele se apropria dessa consciência, está validando as prioridades no trânsito, que é a nossa legislação. Quando ele não se apropria dessa consciência, vai violar essas prioridades. Então, ele importa as suas prioridades internas como, por exemplo, “chegar rápido porque eu estou atrasado”, “não posso esperar, porque senão eu vou ser prejudicado”, “encontrar um jeitinho para que eu pegue um caminho com menos trânsito”. Tudo isso é quando eu pego a minha prioridade e coloco em cena e vou invalidar aquilo que nos orienta.
Esse motorista precisa muito ter essa consciência ampliada daquilo que está acontecendo. Então, uma das campanhas que acaba tendo um grande efeito são as que apresentam para esse motorista dados estatísticos dos acidentes de trânsito, daquilo que vai acontecendo no dia-a-dia que pode, inclusive, acontecer com ele.
Então, na medida em que trazemos essas informações de um recorde da realidade que pode acontecer se ele acelerar demais, sobre aquilo que pode acontecer se ele insistir em ficar no celular, sobre o que pode acontecer se ele furar o sinal vermelho, isso tem uma propriedade interessante de mudar o comportamento.