Jovem de Goiás participa de
campanha do WWF-Brasil
Quatro jovens refazem o caminho da semente ao
prato para falar da sustentabilidade da comida
No biênio 2018-2020, um em cada quatro brasileiros sofreu com a falta de comida de maneira moderada ou severa. Nesse período, alguns jovens da geração Z, muitos da classe C e D produziam seus próprios alimentos. Agora, por meio de conteúdos em texto e vídeos para redes sociais, eles estão compartilhando suas jornadas da semente ao prato. A campanha Caminhos da Comida, do WWF-Brasil, foi criada pela Purpose Brasil e fica no ar até o final deste ano.
De família rural, Marcelo Borges, de Aparecida do Rio Doce, em Goiás, optou pela faculdade de jornalismo e, por meio da comunicação, reforçou seus laços com o campo. Deputado jovem, é fundador do Folhas Que Salvam – com embaixadores em 23 Estados. A organização foi criada após uma aula sobre queimadas que o sensibilizou e o levou a desenvolver um projeto para engajar ativamente os jovens em ações ambientais, como reflorestamento, mutirões de limpeza e conversas sobre degradação e regeneração da paisagem. Atualmente é também membro do Acredito, Politize e Engajamundo e Lala.
Outra jovem que está mostrando ser possível produzir os próprios alimentos é Sabrina Bizunga, de São Luiz do Curu, no Ceará. Filha de produtores rurais, é a única, entre 11 irmãos, que deu continuidade à atividade dos pais. “Estou herdando a lavoura e fazendo do meu jeito, mesmo batendo muito de frente com meu pai,” revela. Formada como técnica em meio ambiente, agronomia e agrimensura, Sabrina também é a idealizadora e dirige o projeto Flor do Sertão, empresa sustentável, onde trabalha com a valorização do sertão, ornamentação de jarros rústicos, restauração e montagem de jardins, além da produção de alimentos. “A ideia é mostrar, através da Flor do Sertão, que as pessoas podem produzir seu próprio alimento, que é possível”, ressalta. A jovem conta que as pessoas não respeitavam a assessoria técnica que prestava aos agricultores, por ser jovem e mulher. Isso fez com que ela quisesse se reinventar e buscar crescimento profissional, além de novos campos de estudo, como técnico em agropecuária, agrimensura e, recentemente, em meio ambiente.
Enquanto Sabrina renova a tradição rural da família, outro jovem do Nordeste se volta para a produção de alimentos como forma de resistência. Trata-se de Gleison Leite Xucuru, jovem indígena de 24 anos do Povo Xukuru do Ororubá, da Aldeia Cana Brava, que fica em terra indígena homologada no começo deste século, após décadas de lutas e conflitos, no município de Pesqueira, em Pernambuco. Para o povo Xukuru, a agricultura é parte encantada de uma extensa rede de manifestações ancestrais. “Essa relação com a terra é um contato direto com nossa ancestralidade, com nossos encantados. É aí que visamos buscar o contato com a natureza, consultando-a e fazendo as coisas da melhor forma possível. Como produzir alimentos sustentáveis que trarão benefícios para a gente. A natureza é um espaço sagrado e vivo”, explica. Em seu roçado e quintal produtivos são produzidos hortaliças, tubérculos e frutas (feijão, milho, mandioca, abacate e banana). Gleison é tocador de pife no grupo Jetuns e jetuins de Mandaru, integra a Comissão de Jovens Multiplicadores e Multiplicadoras da Agroecologia (CJMA Agreste) e atua na experiência da Trilha Saberes, uma trilha ecológica no território Xukuru.
Criada até os 18 anos no Rio de Janeiro, Amanda Bonadiman percorreu o raro caminho que leva jovens da cidade a morarem no campo. O curso universitário de agroecologia a levou até Rio Pomba, em Minas Gerais, onde entendeu o que era a ciência, a prática, e o movimento agroecológico. Em 2018, conheceu seu companheiro e engravidou. Tiveram acesso a uma terra em Alegre, no Espírito Santo, onde criam sua família e se dedicam ao trabalho no campo, à produção e comercialização de alimentos in natura e processados. Trabalham na feira agroecológica de Alegre desde 2019, onde vendem sua produção. “Comemos simples. Nossa alimentação é baseada no que plantamos aqui e o complemento também vem da mesma feira agroecológica, onde trabalhamos. Sempre tem uma coisinha pra colher: inhame, mandioca, verdura etc. Não somos veganos nem vegetarianos. Somos da roça. Nossa alimentação é da roça. Não comemos carne vermelha, mas outras carnes comemos.”
A campanha Caminhos da Comida vem na sequência de uma pesquisa global da Economist Intelligence Unit (EIU) e encomendada pelo WWF, que mostrou um crescimento do ativismo digital em torno de temas ambientais. Apenas no Twitter o aumento no número de menções a natureza e biodiversidade nos últimos quatro anos foi de 65%. Somadas, essas postagens alcançaram um público de quase 1 bilhão de pessoas em todo o mundo. Essa tendência é mais forte na América Latina, onde o número de postagens relacionadas à natureza e à biodiversidade disparou 136% entre 2016 e 2020.
“A falta de conhecimento e conexão com a produção de alimentos já foi confirmada em inúmeras pesquisas nos Estados Unidos e Reino Unido e também no Brasil. Ela é fruto, em grande parte, da maciça presença – que aumentou vertiginosamente nos últimos anos – dos produtos ultraprocessados no nosso imaginário e nas nossas mesas. Ao mesmo tempo, milhares de pequenos produtores estão gerando comida saudável e acessível, mas permanecem no anonimato. É o caso desses jovens e são essas experiências que queremos compartilhar para fomentar o debate sobre alimentação saudável e sustentável entre os jovens”, explica Virginia Antonioli, analista de conservação do WWF-Brasil.
Sobre o WWF-Brasil: é uma ONG brasileira que há 25 anos atua coletivamente com parceiros da sociedade civil, academia, governos e empresas em todo país para combater a degradação socioambiental e defender a vida das pessoas e da natureza. Estamos conectados numa rede interdependente que busca soluções urgentes para a emergência climática.